
terça-feira, dezembro 25, 2007
Índios

terça-feira, dezembro 11, 2007
Amando como homem
Numa recente noite de insônia, sem nada de especial a fazer, peguei na minha estante de livros o primeiro volume de As Brumas de Avalon e pus-me a reler alguns trechos meio a esmo. Faz alguns anos que li esse ambicioso romance em quatro volumes, que a autora, a americana Marion Zimmer Bradley, definiu como uma versão das lendas arturianas narrada do ponto de vista das mulheres. De fato, o livro tem um tom marcadamente feminino e, não raro, feminista. Não se pode negar que Bradley tinha um estilo hipnotizante, que tornava quase impossível não gostar de suas histórias, mas nesse, como em outros de seus livros, há detalhes que incomodam o leitor do sexo masculino. A autora põe muita ênfase no fato (que é fato: não tenho a mínima intenção de discuti-lo) de que existem sentimentos, vivências e idéias que as mulheres conhecem e que os homens jamais serão capazes de compreender - mas não parece lhe ocorrer em momento algum que talvez a recíproca também seja verdadeira.
Certa vez, num período em que estava desempregado, trabalhei em sistema free lancer para uma moça, advogada, que estudava história e sociologia por hobby e estava escrevendo um livro sobre "a condição feminina através dos tempos e suas repercussões no Direito contemporâneo". Meu trabalho consistia em ler trechos de diversos livros, fazer resumos, digitar e formatar o que ela escrevia, e assim por diante. Certa tarde em que se sentia particularmente cansada de sua rotina, que incluía o trabalho como advogada, dar aulas na faculdade, e ainda o livro, ela desabafou comigo que às vezes tinha vontade de "assumir seu papel de gênero" - o que, em bom português, quer dizer virar uma dondoca inútil. Olhei bem para ela e respondi que devia considerar-se com sorte de poder fazer isso, se um dia realmente quisesse, pois nós, homens, nem esse direito temos. Na hora, ela riu muito, mas tenho esperança de que mais tarde tenha refletido um pouco a respeito. O que quero dizer é isto: imagino que ser mulher não seja nada fácil, mas seria bom se fosse lembrado com mais freqüência que ser homem também não o é. Nós nunca vamos ter idéia do que é o martírio periódico de um ciclo menstrual, mas, da mesma forma, elas jamais serão capazes de imaginar o que é levar um chute no saco. Se ambos os lados simplesmente reconhecessem isso, metade das dificuldades no relacionamento entre os sexos estaria aplainada.
Acreditem, moças, pode ser revoltante viver numa sociedade que quer fazer com que vocês representem um papel de submissas, frágeis e dependentes - mas não é nada fácil viver nessa mesma sociedade que nos cobra que temos que ser fortes o tempo todo. Pior: a concepção de "força" aí envolvida é ridícula. Parece que demonstrar ternura a quem se gosta não é um comportamento que se admita naquilo que Luís Fernando Veríssimo denomina jocosamente de HQH ("homem que é homem"), parece que ser forte não é compatível com doçura ou generosidade, parece que o cara só será considerado "macho" pelos seus pares se for bronco e insensível. O adolescente que, numa daquelas rodas de pátio de escola, não se gabar da quantidade de garotas com quem "ficou", preferindo declarar que gosta de uma e só quer ela, será considerado, no mínimo, esquisito pelos colegas. Há até quem sustente que o natural no ser humano, ou ao menos nos homens, seria a poligamia, como acontece com a maioria das espécies na natureza. A explicação para a suposta tendência masculina para a poligamia e feminina para a monogamia seria então biológica: espermatozóides são baratos, já óvulos são caros, ou, melhor explicando, cada um dos sexos tem uma maneira diferente de garantir a perpetuação de seu patrimônio genético, que é o objetivo final da reprodução e, por conseguinte, de tudo o que direta ou indiretamente derivou dela, como essa coisa maravilhosa, terrível e totalmente sem sentido que nós, humanos, convencionamos chamar de amor. Para o macho, a maneira mais eficiente de passar adiante os seus genes seria fazendo sexo com o maior número possível de parceiras. Já a fêmea, que tem que arcar com todas as dificuldades da gestação e do cuidado com a prole, precisaria, por razões práticas, ser mais seletiva na escolha de parceiros. Porém, quem defende essa teoria esquece um detalhe fundamental: ao contrário dos outros animais, o ser humano tem livre arbítrio. Pode escolher agir assim ou assado, não precisa necessariamente ser um escravo dos instintos - embora também possa escolher ser isso, se quiser. O que eu queria aqui era apenas ressaltar como a combinação de elementos biológicos e culturais, encarados de uma maneira torta, criou na sociedade ocidental moderna uma idéia de "ser homem" que não satisfaz àqueles que, mesmo correndo o risco de serem tachados de ingênuos, ainda querem acreditar nos valores humanos essenciais.
A noção comumente aceita do que seria "masculinidade" é mais uma entre tantas pedras no caminho de quem, embora nascido com testículos, ousa ser romântico, sente a necessidade de entregar-se para valer quando gosta de alguém, ama sem meias medidas, não consegue gostar "um pouco", quer de verdade fazer a pessoa feliz, esforça-se por ser totalmente reto, claro, limpo e sincero, e só não se doa mais quando a moça não o permite. O amor parece ser um pouco como a política do Brasil: tanto num quanto na outra, parece que quem teima em agir com honestidade tem uma vida muito mais difícil do que quem opta pela pilantragem.
sábado, dezembro 01, 2007
Gethsemane

Toll no bell for me, Father
But let this cup of suffering pass from me
Send me no shepherd to heal my world
But the Angel - the dream foretold
Prayed more than thrice for You to see
The wolf of loneliness in me
...not my own will but Yours be done...
You wake up, where's the tomb?
Will Easter come, enter my room?
The Lord weeps with me
But my tears fall for you
Another Beauty
Loved by a Beast
Another tale of infinite dreams
Your eyes they were my paradise
Your smile made my sun rise
Forgive me, for I don't know what I gain
Alone in this garden of pain
Enchantment has but one truth:
I weep to have what I fear to lose
You wake up, where's the tomb?
Will Easter come, enter my room?
The Lord weeps with me
But my tears fall for you
"I knew you never before
I see you never more
But the love, the pain, the hope, O beautiful one
Have made you mine, 'till all my years are done"
Without you
The poetry within me is dead
domingo, novembro 04, 2007
Todos os Nomes
sábado, outubro 13, 2007
Vinci e poucos
O sonho da argila Thiago de Mello * * * Gosto muito de poesia de diversos tipos, mas tenho uma tendência a apreciar de modo muito especial os poemas que dizem as coisas que eu próprio gostaria de dizer, se soubesse como. Aqueles que a gente lê e, simultaneamente à admiração, sente uma ponta (ou um iceberg) de inveja: "Deus do céu, o que eu não daria para ter escrito isso!" Um dos mais admiráveis exemplos da minha galeria é o poema acima, de autoria do amazonense Thiago de Mello - um poeta, diga-se de passagem, que mereceria fama muito maior que a que tem. A sensação de estar sempre nadando contra a correnteza é aflitiva, e ainda mais aflitiva se torna quando nos damos conta de que há mais: quando se está nadando contra a correnteza e, além disso, nadando no meio de uma multidão de pessoas que nem percebem que existe uma correnteza. Perceber que todo o nosso sistema de valores é particular - quer dizer, que temos noções diferentes das de todos sobre o que é importante e o que não é - implica uma visão diferente do mundo. Num certo sentido, em viver num outro mundo. Um mundo onde ter cultura vale mais que ter um peitoral definido, onde o conhecimento deve servir para fazer de nós seres humanos mais plenos, e não meramente para ganhar dinheiro, um mundo onde nenhum carro do ano na garagem e nenhum nível de status valem o ato de vender a alma a um sistema desumano. Entendo que Thiago de Mello fala da aflição de estar acordado num mundo onde todos parecem profundamente adormecidos, e, para além disso, da outra aflição, a de saber que outros que despertaram antes de nós realizaram grandes feitos pelos quais serão lembrados para sempre, e que isso não é para todos - nem mesmo para todos os que estão acordados. Porém, há o conforto de saber que, mesmo sem fazer algo que ponha nosso nome nas páginas da História, podemos fazer algumas coisas para que este mundo ganhe um pouco mais de sentido. Estar acordado vale a pena. |
domingo, outubro 07, 2007
The Mask and Mirror
Lembro bem de quando e como conheci Loreena McKennitt. Foi no quente e sufocante início de 1996. Eu tinha 21 anos e, pela primeira vez, estava num emprego que durou tempo suficiente para que eu precisasse passar um verão sozinho na cidade, enquanto o resto da família ia à praia. Era um emprego não muito diferente do que tenho agora - igualmente burocrático e desagradável. De férias da faculdade, adquiri o hábito de fazer um, como dizem, "happy hour": ao largar o trabalho no final da tarde, antes de ir para casa, passava pelo shopping da cidade para um café ou um sorvete e para desanuviar um pouco a cabeça. Depois, dispensava o ônibus e ia para casa a pé.