A antropologia e a biologia nos informam que o ser humano evoluiu para viver em sociedade, isto é, para estar na companhia de outros membros de sua espécie. Até aí, nada de estranho: inúmeras outras espécies também são gregárias por natureza, vivendo em grupos que variam em grau de organização desde simples bandos liderados pelo animal mais forte, até verdadeiras sociedades, em sentido próximo ao que nós, humanos, damos a essa palavra, como é o caso de abelhas ou formigas. Entretanto, esse é mais um ponto que faz de nós, a única espécie do gênero Homo a sobreviver à última Era Glacial, um caso único, porque, como somos infinitamente mais complexos que qualquer de nossos irmãos do reino animal, também a questão da companhia assume para nós implicações que não tem para nenhuma outra espécie. Muitos seres podem ter necessidade da companhia de seus semelhantes, por razões de sobrevivência; apenas nós temos o desejo de companhia, mesmo quando, do ponto de vista puramente prático, ela não seja necessária.
E o que acontece quando vivemos cercados de tantas pessoas, na escola, no trabalho, na rua, até em casa, e isso, paradoxalmente, não alivia nosso sentimento de solidão? Sempre me pergunto se muita gente sente isso, ou se é outra peculiaridade minha. É uma questão que fica ainda mais evidente hoje em dia, quando a tecnologia pôs ao nosso alcance uma série de instrumentos capazes de permitir a comunicação instantânea entre pessoas até mesmo em lados opostos do globo terrestre - comunicação à qual, se nem todos têm acesso, os que o têm podem utilizar a qualquer momento. Então, por que isso tudo só faz aumentar a sensação de isolamento que tantas vezes eu sinto me afligir?
A explicação é que, ainda que, bem ou mal, todo mundo no Brasil fale português, com a maioria (quase totalidade) das pessoas, eu me sinto como se não falássemos realmente a mesma língua. Tudo o que dizem me parece tão raso, tão sem sentido, tão sem importância, que, embora eu reconheça que procurei por essa companhia, no momento em que a tenho, fico impaciente para deixá-la, porque não a sinto como verdadeira companhia.
Até onde vale a pena ir em busca de uma mente semelhante?