sábado, dezembro 19, 2009

Gratidão


É interessante como os sentimentos mais legais que nós, seres humanos, experimentamos em nossas efêmeras existências são (coincidência ou não) justamente aqueles que é mais importante e relevante dar do que receber. E talvez a nenhum outro sentimento isso se aplique melhor do que ao da gratidão. Não que não seja maravilhoso receber uma manifestação sincera de gratidão de outra pessoa, mas esse é realmente um sentimento que faz um bem muito maior a quem o experimenta do que a quem é dirigido, o que me leva a suspeitar que a gratidão talvez seja a contraparte positiva do ódio - este, como dizia um verso de uma música que ouvi certa vez, é "o veneno que um toma, querendo que o outro morra". A música não era grande coisa e não lembro ou nunca soube quem a cantava, mas só por trazer esse verso ela já merece ser poupada do limbo do esquecimento que é o destino fatal de 99 por cento de todos os pop-rocks de FM.

Um bom começo para tentar explicar o que quero dizer é aquela gratidão que não se destina a pessoas, e sim a Deus, ou a qualquer poder superior no qual a pessoa acredite - e talvez quem não acredita em nada disso sinta-se grato ao acaso, mesmo que essa ideia pareça um tanto sem sentido. Não vou dizer que estou cem por cento satisfeito com a vida que levo - estaria bem mais contente se pudesse ganhar a vida escrevendo ou ensinando, ao invés de me dedicar a serviços burocráticos, por mais que esteja ciente da importância do que faço -, mas fico grato, sim, quando, no meu trajeto a pé para o trabalho pela manhã, passo por alguns sujeitos de camiseta azul que também se dirigem ao trabalho, sendo que o deles, numa grande indústria aqui da cidade, é braçal e paga um quarto do que eu ganho. Talvez esses caras não tenham tido a chance de estudar, ou talvez tenham tido a chance e tenham tido preguiça, tanto faz; minha gratidão é por ter tido a chance e também a vontade, pois as duas coisas foram necessárias para que eu chegasse a ter o que tenho hoje. Não me sinto realizado, mas não tenho nenhuma preocupação material. Pode parecer excessivamente pragmático vindo de alguém que se considera um idealista, mas botar a cabeça no travesseiro à noite e poder dormir sem ficar pensando se vai ou não conseguir fechar as contas no fim do mês também tem seu valor. É algo pelo qual não é descabido ser grato. Além disso, o dinheiro que ganho vai um dia pagar o meu curso de mestrado, que poderá ser uma chance de mudar de vida - uma chance que os tais caras de camiseta azul talvez nunca tenham.

Refletir sobre tudo isso e sentir que tenho pelo que agradecer faz bem. Não a Deus: não creio que faça diferença para Ele. Mas faz bem
a mim.

Fico pensando, também, na ideia mais ou menos generalizada de que um gesto que haja demandado sacrifício de quem o fez é mais merecedor de gratidão do que um que tenha sido espontâneo, natural. Talvez seja mais merecedor, mas deve haver um motivo qualquer na complexa natureza humana para que as coisas pelas quais mais facilmente nos sentimos gratos sejam aquelas feitas quase sem perceber pela outra pessoa. Um gesto de amizade sincera (aliás, "amizade sincera" é redundância: se não for sincera, não é amizade) é sempre espontâneo, gratuito, feito por prazer, e, no entanto, que gratidão desperta! Um momento agradável que se partilha fazendo seja o que for, uma boa conversa, um desabafo feito ou ouvido, algumas lágrimas nossas no ombro de um amigo, ou as dele no nosso - tanto faz. Quando a amizade é verdadeira, tudo isso tem o mesmo valor. Eu fico grato a um amigo que está sempre disponível para me ouvir quando preciso, mas fico igualmente grato quando ele, ao precisar que alguém o ouça, procura por mim.

Por fim, acredito que a gratidão é algo que deve ser oferecido e aceito alegremente, mas não é algo que se deva procurar - não se deve fazer coisa alguma esperando gratidão. E isso não apenas por causa do nobre princípio cristão da bondade desinteressada, que não espera recompensas: há um motivo bem mais prático, que é o simples fato de que, na maioria das vezes, quem espera por gratidão se decepciona. A gratidão vem quase sempre quando e de onde não se espera.

terça-feira, novembro 24, 2009

O tempora! O mores!

Confesso que sempre achei difícil me manter informado até mesmo sobre as coisas importantes da atualidade. Imagino que a maioria dos membros da casta marginalizada dos apaixonados por literatura enfrentem o mesmo problema: sentar e ler um jornal de cabo a rabo só é tarefa exequível para quem desconhece o canto de sereia de um bom romance. O leitor entusiasta, quando encontra um tempo livre no seu dia, quer logo voltar ao livro que estava lendo na véspera, ou começar aquele outro que parece tão empolgante, e, como, com poucas exceções, o tempo não é um recurso abundante para ninguém nestes dias, é preciso fazer uma opção. Resultado: acabo lendo, do jornal, somente aquilo que, após uma rápida análise preliminar, me parece realmente essencial. Quem quiser pode me chamar de alienado, mas, se eu o for, ao menos posso dizer que estou em excelente companhia:

"Para que vou gastar uma hora do meu dia lendo coisas que amanhã não vão valer mais nada? (…) Um jornal é lido para ser esquecido. Já o livro é lido para eternizar a memória." (Jorge Luis Borges)

Sim, o Borges! Depois disso, receberei a pecha de "alienado" como um elogio.

Se eu já suo para me manter atualizado sobre as coisas importantes, não seria uma manchete do tipo Universitária expulsa da faculdade por causa do comprimento do vestido que iria me motivar a clicar num link do Yahoo Notícias e gastar preciosos minutos me inteirando dos detalhes. Porém, como acontece com muitas das demais vulgaridades e insignificâncias que tanto fascinam a maioria (e, por isso, são pautas preferidas pelos meios de comunicação), essa história acabou por me atropelar independentemente da minha vontade, forçando-me a formar uma opinião sobre o caso. Não que eu ache que minha opinião vá interessar a alguém - pois, para ser franco, também não ligo a mínima para o que os outros porventura pensem sobre coisas desse naipe -, mas, como a coisa em si é apenas a ponta de um iceberg que pode, ele sim, merecer nossa atenção (e nossa preocupação), então vá lá.

Primeiro de tudo, quero deixar algo claro: as polegadas de pano a mais ou a menos no vestido (ou que nome tenha aquela peça de vestuário) da tal estudante não são a coisa mais importante aqui. Pelo que me toca, ela poderia ir para a faculdade usando apenas um par de brincos de camelô, e isso seria um problema só dela. Claro que provavelmente seria presa por conduta obscena, atentado ao pudor ou outro termo jurídico similar, mas isso também seria problema só dela, e não me faria nem levantar os olhos do meu livro para prestar atenção a qualquer comentário feito a respeito do ocorrido. A conduta intolerante demonstrada pelos colegas da tal moça é de fato preocupante, mas também não é o meu foco aqui. O que me deixa abismado é ver o quanto o valor das coisas, a noção do que é ou não digno de atenção ou admiração, está não só distorcida, mas despedaçada nessa sociedade que extremamente a contragosto temos que chamar de "nossa" sociedade, e nessa "cultura" que eu reluto em chamar assim, porque para mim cultura significa outra coisa.

A estudante passou por uma situação constrangedora, teve alguns de seus direitos humanos mais básicos desrespeitados, e por isso mereceria, em princípio, toda a nossa solidariedade e apoio. Deve ser horrível, depois de passar por tais coisas, ainda sofrer tanta exposição indesejada... Hum... Indesejada? Aí já começo a ter dúvidas.

Pelo andar da carruagem, daqui a um mês ou dois ela estará na capa da Playboy. Depois virão zilhões de entrevistas nos mais diversos programas de TV, desde o da Luciana Gimenez (não esperem que eu saiba o nome do programa) até o Globo Rural, então um convite para participar do próximo Big Brother, um site oficial que os fãs em dois tempos entupirão com mensagens do tipo "adimiro (sic) demais seu trabalho" (Trabalho? Que trabalho??) e por fim seu próprio programa de variedades na TV, que a moça apresentará, provavelmente, sem ter o menor cacoete para a coisa, mas tudo bem, pois isso, metade das pessoas que estão atualmente apresentando programas de TV também não têm. Tudo (inclusive as fotos como veio ao mundo e a participação naquele verdadeiro tratado da baixaria que é o BBB) sempre dando-se ares de moça de família, pois, afinal, tem um filho pequeno... Sua fama não durará mais que os proverbiais 15 minutos de Andy Warhol, é claro, mas já é muito mais do que sua real importância justificaria.

Isso tudo me leva à pergunta: o que podemos esperar de uma sociedade onde o escândalo (que uns procuram, outros aproveitam quando ele lhes cai no colo, mas é sempre escândalo) virou um dos caminhos mais curtos para a fama, a riqueza e a admiração de milhões? Como é que se vai educar uma filha ensinando-a a ter respeito por si e pelos outros, a estudar para ter mérito pessoal e um ganha-pão honesto, quando essa é a imagem de uma "mulher de sucesso" que a mídia oferece? Quando, onde foi que perdemos completamente a capacidade de distinguir entre o relevante e o espúrio? O momento exato é impossível de determinar e não é realmente importante. A causa, essa não é difícil de descobrir: quando não se tem qualquer ideal, objetivo ou referência de valores para nortear a vida, cria-se um vazio, que, como dizia Aristóteles, tem a tendência de se preencher com alguma coisa. E, se tudo o que o meio circundante oferece são futilidades e idiotices, então sinto muito, meus caros, mas é com isso que nossas próximas gerações irão ocupar seus cérebros, suas almas e suas vidas.

quarta-feira, outubro 21, 2009

As Estantes Infinitas

Acabava de ocupar meu assento no ônibus intermunicipal para a costumeira viagem de uma hora e meia que, para mim, marca o fim do fim de semana (fim do fim?... Hum, deixa pra lá, sei que vocês entenderam) e, como sempre faço nesses momentos, abri minha mochila para ligar o discman e pôr os fones nos ouvidos - só que aí percebi que tinha esquecido em casa os meus fones especiais com isolamento acústico. Com um aflito “Oh, não!” em pensamento, abri o bolso frontal da mochila na esperança de achar ao menos um daqueles fonezinhos vagabundos que vêm com os MP3-players e que costumo levar como reserva - mas nem isso encontrei. Resignado, acomodei-me para passar os 90 e poucos minutos seguintes sem ouvir música e, o que é pior, tendo que ouvir as conversas dos outros passageiros, coisa da qual não faço a menor questão.

Há sempre a possibilidade de se estar enganado e de que eu fosse brindado com um delicioso silêncio quebrado apenas pelo ronco distante do motor do ônibus, mas foi questão de minutos que certa senhora que sempre viaja junto comigo começasse a sua algaravia. Ela tem um tipo de voz que sempre me perguntei como poderia descrever se precisasse, mas nunca tinha achado a palavra até aquele momento, quando então a palavra, repentinamente, se apresentou por si mesma: era o que um romancista definiria como uma voz “asmática”. E começou a voz asmática da tal senhora a falar com alguém sentado ao lado dela sobre o estado lastimável em que estavam suas unhas, por ter passado o fim de semana arredando geladeira, armário e outros objetos pesados. Céus, o que eu não teria dado naquele momento para estar ouvindo qualquer coisa do grande Deep Purple. Mas, na presente situação, o que me restava era tentar abstrair. De modo que me transportei de volta para a noite da véspera. Uma noite de sábado.

O cenário era o shopping Praia de Belas, onde eu e a menina que estava comigo chegamos depois de uma longa e agradável caminhada de fim de tarde regada a conversa pela orla do Guaíba, começando na Usina do Gasômetro. Mais exatamente, o cenário era um lugar específico do shopping, a Saraiva Megastore, onde inevitavelmente acabamos, depois de um bom jantar e de um excelente chocolate quente na lojinha da Kopenhagen. Entrar lá e andar por entre todas aquelas estantes, sentindo o ar carregado com o cheiro de papel novo e tinta, sempre me pareceu uma experiência profundamente sensual e um tanto mística, algo que só quem viveu em estreita simbiose com os livros durante toda a vida (ou, ao menos, durante muitos anos) pode chegar a compreender. Mesmo na época em que raramente podia comprar algum livro, eu gostava de ir lá, percorrer com olhos sonhadores aquele mar de lombadas, pegar ao acaso um livro que chamasse a atenção pelo título, ou sobre cujo autor eu soubesse um pouco... Hoje, então, que não preciso mais passar a privação de sair de lá sem levar alguma coisa, a visita a tal lugar tornou-se ainda mais agradável.

A moça, que também é uma leitora inveterada (não saio com quem não seja: podem desistir) comentou, com palavras ligeiramente diferentes, sobre o “garimpo” que é encontrar, no meio de todos aqueles livros, um que nos agrade e vá nos proporcionar longas horas de prazer e, possivelmente, nos ensinar coisas interessantes. Concordei, e fui mais além: é um tanto aflitivo pensar que ali, no meio de milhares de livros, pode haver um ou alguns que, se os lêssemos, poderiam operar mudanças importantes em nossas vidas - pois há livros que têm esse poder. Houve livros que me chamaram a atenção logo que os tive diante dos olhos; por outros eu não teria dado nada a princípio, mas, por uma ou outra razão, comecei a lê-los e não me arrependi. Como saber quantos e quais, entre aquelas fileiras intermináveis de livros, são aqueles dos quais eu inesperadamente iria gostar, mesmo não sendo de autores que eu recomendaria, nem sendo dos gêneros que normalmente prefiro? Cara, isso é aflitivo.

E uma ideia leva a outra, é claro. Richard Bach escreveu: “Mesmo com todos os livros que já temos, ainda há tantos por escrever!” E há. As estantes físicas têm espaço limitado, mas, ainda que o mundo inteiro ficasse coberto de livros, mesmo assim não poderíamos pensar que tudo já teria sido dito. Como o discípulo de um mestre zen aprendendo que sua educação jamais estará completa, sou levado à conclusão de que o legado cultural da humanidade continuará para sempre em construção. E todos fazemos parte disso - até mesmo, querendo ou não, quem não lê. A diferença é que ler, refletir, interligar, construir sua própria cultura, é assumir um papel de protagonista nesse processo, ao invés de mero figurante.

Teria sido tudo efeito do chocolate? Se me atrevesse a tanto, eu escreveria um ensaio borgeano (referência a Jorge Luís Borges) sobre “a esmagadora infinitude das estantes imaginárias”. Talvez, lá na pontinha de uma dessas estantes (o que é contraditório, pois, se é infinita, não tem pontinha) houvesse um lugar para mais esse livro.

terça-feira, julho 14, 2009

Comunicação

"Que arriscado e conturbante é a gente se tirar das solidões fortificadas!" (Guimarães Rosa)

Homens como Samuel Morse, inventor do telégrafo, Alexander Graham Bell, que desenvolveu o telefone, e tantos outros que devotaram seu gênio e seu suor a facilitar a comunicação entre os seres humanos, ficariam atônitos se voltassem ao mundo nos dias de hoje e pudessem ver como as coisas são agora. Hoje, quase todo mundo anda com um aparelhinho de bolso por meio do qual pode ser encontrado a qualquer momento e quase em qualquer lugar. Textos, imagens, músicas e vídeos podem ser enviados de um lado a outro do globo de forma instantânea e sem custo algum. Não há mais o menor perigo de duas pessoas perderem o contato, estejam onde estiverem. Sentado aqui, à minha mesa de trabalho, numa cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul, posso contatar meus amigos de São Paulo, da Itália ou do Japão, sem ao menos precisar tirar a bunda do assento. Sim, são coisas espantosas e maravilhosas, se pararmos para pensar por um instante.

O que é tristemente irônico é que toda essa facilidade de nos comunicarmos não parece estar contribuindo para aproximar as pessoas. A não ser em casos raros e específicos, parece ocorrer o contrário: esses novos aparatos nos soterram sob avalanches de informação sem sentido que acaba gerando apatia, e nos colocam em contato superficial com multidões de pessoas - impedindo um contato profundo com qualquer uma delas. A caixa de entrada de meu e-mail do trabalho é bombardeada diariamente com 20 a 30 mensagens, a maioria trazendo anexos enormes, contendo instruções, relatórios, normativos, notícias, estatísticas e sabe Deus o que mais, enviadas por diferentes setores da instituição para todos os nomes de uma imensa lista da qual, infelizmente, eu faço parte. Nunca vou ler isso tudo, a menos que deixe de trabalhar para cuidar só do e-mail, mas alguém pensa nisso antes de me mandar arquivos em PDF com 30, 40 páginas? O MSN virou uma ferramenta indispensável para gerenciarmos nossos contatos, sejam eles pessoais ou profissionais, mas também nos reduziu, aos olhos uns dos outros, a simples rostos e nomes. Adolescentes, e também outros que já não o são há um bom tempo, gabam-se (como se isso tivesse algum mérito) de ter 150 “amigos” no MSN ou no orkut. A vontade que me dá é perguntar: amigos? Amigos? Quantas dessas 150 pessoas realmente sabem quem você é, ou quantas delas você realmente sabe quem são? Quantas conhecem ao menos detalhes básicos a seu respeito, como em que cidade nasceu, que tipo de música prefere ou como é sua relação com sua família? Com qual dessas pessoas você pode contar quando está triste e precisa conversar? Eu tenho seis pessoas no MSN e já acho isso quase demais. Só considero uma dessas pessoas realmente uma amiga (porque, como no caso de tantas outras palavras, também esta é usada por aí com excessiva liberalidade para o meu gosto). Tirando isso, a maioria das pessoas com quem cheguei a falar por MSN apenas contribuiu para aumentar minha sensação de solidão - pois é essa a sensação que bate quando você está tentando conversar com alguém que demora 20 minutos para lhe responder porque também está falando com outras dez pessoas, além de responder e-mails, baixar músicas, assistir a vídeos, ler as notícias do dia e movimentar sua conta bancária. Tudo ao mesmo tempo.

Saí com uma jovem que não parava de atender ao celular enquanto estava comigo. Depois da terceira vez que me vi obrigado a ficar sentado com uma polida cara de quem não está ali, enquanto ela se alongava em conversas com sei-lá-quem, decidi que já tinha tido o suficiente: não voltei a sair com ela, e não senti falta. Ficar com uma pessoa dessa maneira é só uma outra forma de solidão. E parece que essa é uma tendência generalizada: você tem dezenas de amigos, mas quando foi a última vez que se sentou com um desses amigos por algumas horas, com os celulares desligados, para conversar, ou fazer algo juntos, ou não fazer nada, simplesmente ficar na presença de alguém que é seu amigo e sentir que isso lhe faz bem? O mundo moderno multiplicou exponencialmente a quantidade de nossas relações, mas fez a qualidade delas cair de forma abissal. Não temos mais tempo uns para os outros - parece que basta saber que a pessoa "está lá". E no entanto, que grave erro é acreditar que isso basta... Um erro que, geralmente, só percebemos quando já é demasiado tarde para repará-lo.

Por mais mirabolantes que sejam os instrumentos de comunicação ao nosso dispor, eles não são capazes de cobrir o abismo que cavamos à nossa própria volta quando estamos muito acomodados para dar-nos ao trabalho (e, o que é mais, correr o risco) de dar um passo em direção ao outro, olhá-lo nos olhos sem disfarces, dizer em alto e bom som o quanto ele é importante para nós e o quanto nos faz felizes tê-lo em nossas vidas. Não há celular a seis centavos o minuto que substitua uma boa e franca conversa, não há MSN que preencha o vazio de não ter o prazer da companhia de um amigo, não há webcam que valha por um forte e demorado abraço. Por isso, e por mais que seja verdade que "conselho é aquilo que o sábio não precisa e o tolo não aceita", eu lhe digo, a você que me lê neste momento: deixe a vergonha e os preconceitos de lado e diga hoje aos seus amigos, pais, filhos, esposa, marido, namorada, namorado e a qualquer outra pessoa de quem você goste o quando eles são importantes para você. Pare de achar desculpas para não lhes dar atenção ou passar mais tempo com eles, esqueça a internet, desligue o celular. Você chegou a este mundo sozinho e vai sair dele do mesmo jeito, portanto não desperdice a chance de ter esses preciosos companheiros de jornada ao seu lado (realmente ao seu lado, ainda que a distância) enquanto pode.

quinta-feira, abril 23, 2009

Marte e Vênus: um só planeta

- Aline! Que bom que veio!
- Ora, e eu ia perder a oportunidade de matar saudades? Como você está, moço?
- Vou muito bem! Vamos sentar ali?
- Claro.
- Sabe, é legal estar aqui conversando com você! Muitos caras acham difícil entender que eu goste tanto da companhia de uma menina, mas tenho culpa se eu não consigo achar que a vida se resuma a beber cerveja e falar de futebol ou da anatomia de celebridades?
- (risos) Como se conversas masculinas também devessem obrigatoriamente incluir gostosonas e futebol.
- Uma vez falei isso para um conhecido e ele perguntou se eu preferia conversar sobre novela e salões de beleza... Como se ele achasse que é obrigatório uma mulher só pensar nessas coisas, entende?
- Sério, eu não sei como a maioria dos homens não se ofende... não obrigada, traz só um guaraná? ...Obrigada!
- Pra mim uma Pepsi Twist, por favor.
- Então ....não sei como os homens não se ofendem com esse estereótipo do próprio machismo que sustentam. Porque o machismo não só transforma mulheres em objetos, mas também faz parecer que homens não têm uma cabeça de cima. Acho que é por isso que muitos homens não conseguem ter amizade com meninas, estão sempre achando que elas não passam dos atributos físicos que têm, ou da capacidade de dissertar sobre o último episódio da novela da Globo... Legal esse barzinho, nunca tinha vindo aqui.
- Sim, também gostei... Bem, Aline, eu acho que isso tudo começa porque as pessoas simplesmente aceitam o rótulo que a sociedade gruda nelas assim que nascem - não pensam na possibilidade de ser diferentes.
- Hm. Exemplo?
- Parece que a "macheza" está condicionada a ser uma criatura óbvia, primária, sem nenhuma idéia nova ou interessante, que pensa que amizade só é possível com outros homens, porque mulher é só pra "transar", e acha que qualquer conversa sobre pensamentos ou sentimentos é "frescura". E o pior é que parece ter sido assim por tanto tempo, que até as mulheres acabaram assimilando essa noção: por mais que passem maus pedaços ao lado de caras assim, acham que não tem jeito, porque "homem é assim mesmo".
- Nem me fale. E quando a mulher que vai além de um corpinho bonito e que consegue estabelecer conversas legais e interessantes, acaba se integrando ao grupo de amigos de um cara? É claro que já depende do cara. Mas por ser uma menina em um grupo de amigos exclusivamente masculino, eu já fui considerada por eles como "homem". E vou te dizer uma coisa, Marcos... não existe coisa mais repugnante do que ser considerado um elogio e uma atitude de respeito destituir a pessoa do que ela realmente é para ser considerada uma "igual".
- Puxa!... E te dou inteira razão de ficar chateada com isso! Isso nada mais é do que um preconceito velado, ou até inconsciente, mas, mesmo assim, um preconceito! E não só quando um homem diz a uma mulher que ela é "como se fosse homem". É a mesma coisa dizer a um negro que ele tem "alma branca", ou a um velho que ele tem "espírito jovem" - e achar que está fazendo um elogio!... Ao contrário, eu acho esse tipo de declaração ofensivo à classe de pessoas a quem se dirige, pois o que fica implícito nelas é que o homem é melhor que a mulher, que o branco é melhor que o negro, e que o jovem é melhor que o velho!
- Isso mesmo! Por isso fiquei tão ofendida. Foi como ele ter dito: "não te considero uma igual, porque não quero me comparar a uma mulher. Para sermos iguais, você precisa ser homem".
- Sei exatamente do que você está falando, e acredite, como em tudo na vida, essa moeda tem dois lados... Também é horrível para um homem perceber que, para a maioria das mulheres, um cara que consiga conversar com elas, que as entenda e respeite pelo que são, justamente por causa disso deixa de ser encarado como homem!
- Sério que isso acontece?
- Pior que sim. Tipo, as moças se queixam da falta de sensibilidade masculina, dizem que o companheiro ideal seria um cara sensível, inteligente, gentil, romântico - mas quando topam com um, relegam-no à condição de amiguinho e continuam a se apaixonar por ogros, porque, de tanto serem expostas à noção que a sociedade faz do que seja ser "homem", não conseguem enxergar um cara como um ente masculino, a menos que ele aja como um ogro!
- Onde tá escrito mesmo que homens e mulheres não podem ser amigos juntos sem deixar de ser o que são? Não se pode deixar de considerar homem um cara que é mais sensível que a média troll da população. Da mesma forma, não se pode deixar de considerar mulher uma garota que goste de quadrinhos e RPG. Porque sensibilidade não é uma característica exclusiva feminina, é uma característica humana! Da mesma forma, coisas como hq's e videogame é coisa da cultura humana, e não masculina. Aliás, ali do outro lado da rua tem um fliperama. Vamos lá? Compro umas fichas.
- Podemos ir sim, mas já vou avisando que devo estar enferrujado, faz anos que não entro num!
- Não tem problema, eu pego leve. Ei, moço! Deu dois reais aqui o meu, né?
- Não se incomode, eu pago... Está vendo? Isso é outro aspecto do que a gente falava há pouco. Pequenos gestos de cavalheirismo não machucam ninguém, independente do sexo. Conheço muita gente - tanto homens quanto mulheres - que acham esses gestos um assunto complicado, o que na minha opinião, é pura insegurança de ambos os lados! Enquanto o cara fica pensando: "Será que fica 'esquisito' se eu abrir a porta do carro para ela?", a mulher, se for do tipo paranóico, pode, por sua vez, pensar: "O que esse cara tá pensando, que eu não sou capaz de abrir a porta sozinha?"
- Olha... Preciso mesmo te apresentar para alguns dos meus amigos trolls!
( Em parceria com Aline Valek! )

domingo, fevereiro 08, 2009

Benjamin Button

"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.

Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.


Você vai para o colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?"

Charles Chaplin
* * *

Esse pensamento de Chaplin não inspirou o filme O Curioso Caso de Benjamin Button, que é baseado num conto de F. Scott Fitgzerald de 1921... Mas bem que poderia tê-lo inspirado. Em mim, a lembrança foi automática, e passei um pouco de trabalho com o site de busca para encontrá-lo de novo, justamente porque queria pô-lo aqui. No mais, este não vai ser um comentário filmográfico como alguns que já fiz no meu outro blog, o Notas de Literatura; é muito mais difícil dizer algo interessante sobre um filme como este do que sobre os que comentei lá, então será uma coisa meio surrealista: os sentimentos que ele me despertou irão direto para o teclado, sem passar pelo crivo da razão.

Benjamin (o nome é o do mais jovem dos doze filhos do patriarca bíblico Jacó, e, nos países de língua espanhola, significa "caçula"; coincidência?) é um garoto que nasce com uma característica estranha: recém-nascido, apresenta todos os sintomas de degenerescência física normalmente encontrados em pessoas muito idosas, e, à medida em que o tempo passa, vai rejuvenescendo. Cresce num asilo, e aprende desde cedo a conviver com o fato de que as pessoas morrem. "We're meant to lose the people we love. How else would we know how important they are to us?" Essa é uma das frases mais interessantes do filme. Não é uma lição fácil para ninguém aprender, e ainda menos para um homem que vê todos os seus amigos envelhecerem e morrerem enquanto ele próprio fica cada vez mais jovem. Benjamin faz amizade com Daisy, neta de uma das moradoras do asilo, os dois se entendem, suas mentes infantis fazendo contato por cima da aparência precocemente envelhecida dele - uma amizade que não é vista com muito bons olhos por outras pessoas, em especial pela avó de Daisy. Já adolescente (o que, no seu caso, significa que chegou ao início da velhice, ainda - ou já - com algum vigor físico), Benjamin vai trabalhar no mar. Corre o mundo como marinheiro, passa por experiências juvenis como a primeira paixão - que não é exatamente a primeira, já que Daisy nunca saiu de sua cabeça -, só que com a mente juvenil pilotando um corpo maduro. O barco onde trabalha é recrutado como unidade de apoio para a marinha dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial, e Benjamin vê de perto outro tipo de morte, observando que, ao contrário do que acontecia no asilo onde cresceu, "ali a morte não parece uma coisa normal"... Quando finalmente volta para casa, reencontra Daisy, já adulta e seguindo a carreira de bailarina. Muitas coisas acontecem, mas os dois acabam se acertando e ficando juntos, durante os breves anos em que suas "cronologias" coincidem: Daisy amadureceu até certa idade, e Benjamin rejuvenesceu até a mesma. Quando se torna um jovem de seus vinte e poucos anos, ao passo que Daisy se aproxima da meia-idade, Benjamin decide partir, apesar de amá-la, porque, segundo diz, a filha que tiveram "precisa de um pai, e não de um amiguinho". Daí em diante, o componente fantástico da história atinge seu máximo grau de "fantasia", com conseqüências tão comoventes quanto inevitáveis. Para saber mais, vejam o filme - vale muito a pena.

Como em quase tudo na vida, no que toca a cinema eu também tenho momentos diferentes. Algumas pessoas gostam apenas de um ou de poucos tipos de filmes; eu não. Assim como existem músicas que são para relaxar e outras para injetar adrenalina, assim como alguns livros são para estimular a reflexão e outros meramente para empolgar com narrativas emocionantes (e, por que não?, alguns conseguem fazer as duas coisas), também há filmes que envolvem e comovem, e outros que só mesmo divertem. Nada errado com isso. E preciso confessar que fazia tempo que um filme não me comovia tanto quanto esse.

Não é a primeira vez que me pergunto como seriam os fatos comuns da vida, vistos pelos olhos de uma criatura incomum - quero dizer, ainda mais incomum do que eu e uma ou duas pessoas que conheço. Imagine-se como uma pessoa em cuja ampulheta a areia escorre para cima, cujo relógio gira da direita para a esquerda, e que por isso, querendo ou não, acaba por ter da vida um ponto de vista que as outras pessoas nunca poderão ter. Vendo coisas que estão ocultas dos outros (e, por vezes, querendo que estivessem ocultas também de você, mas essa decisão não é sua). Aprendendo o exato valor de momentos e palavras que de outra forma iriam embora com o vento, sem que lhes fosse dedicado um só pensamento. Ciente de que vai ter um fim, como todos os outros, mas, ao contrário desses outros, sem o conforto de ter entes queridos caminhando ao seu lado ao encontro desse fim, para tornar a perspectiva menos assustadora.

Cada pessoa que for assistir a O Curioso Caso de Benjamin Button sairá do cinema com pensamentos diferentes. Em mim, o pensamento foi o de que um filme assim nos oferece a valiosa oportunidade de pensar sobre o valor de certas coisas e pessoas em nossas vidas, sem antes precisar perdê-las. Momentos bons devem ser vividos com os olhos bem abertos e os sentidos bem alertas, em vez de apenas passarmos por eles como por um fato consumado. E as pessoas que amamos devem ouvir da nossa boca que as amamos, enquanto temos a chance de dizê-lo. Oportunidades perdidas raramente voltam, mesmo para quem vive de marcha-a-ré, como Benjamin Button.

domingo, janeiro 18, 2009

My Inner Wilderness

Wilderness é daquelas palavras difíceis de traduzir. De acordo com o babylon.com, que oferece um dicionário inglês/português online, as possíveis definições são: "imensidão, vastidão; deserto; floresta; espaço aberto; território descampado; mistura, confusão; jardim para plantas selvagens". Enfim, wilderness pode ser praticamente qualquer coisa que dê idéia de um lugar selvagem e pouco habituado à presença humana. Quando escolhi o nome Inner Wilderness para este meu blog, isso já faz um ano e alguns meses, era precisamente essa a idéia que eu queria que o título expressasse: a minha "selva interior", aquela imensidão misteriosa, emaranhada e possivelmente perigosa, onde é sempre um risco penetrar, até mesmo para mim - e cujo acesso eu não tenho o costume de franquear a qualquer pessoa. Porém, algumas coisas trazidas de lá poderiam me estimular a escrever - e eis a razão de ser deste blog.

O fato é que meu mundo interior sempre foi de extrema importância para mim. Sou o que alguns costumam chamar de uma pessoa "subjetiva". Muitas vezes, palavras que são muito usadas deixam de ser associadas, pelo falante comum, às suas raízes etimológicas: quantas vezes dizemos que estamos "desorientados", sem nos darmos conta de que essa palavra remonta à época das grandes navegações e era usada para dizer que o navegante não sabia mais para que lado ficava o leste, ou seja, o oriente? A mesma coisa acontece com "objetivo" e "subjetivo". Uma pessoa é objetiva quando, para ela, o mais importante são os objetos, ou seja, o mundo exterior, a realidade concreta; é subjetiva quando dá mais importância ao sujeito, quer dizer, ao ser humano - começando por si própria. Percebo que, mesmo quando olho para o mundo "lá fora", faço-o a partir de dentro - o que vejo, vejo por meio dessa lente. Para a pessoa objetiva, o mundo é o que é e pronto; para os subjetivos, como eu, a realidade material é menos importante do que aquilo que pensamos sobre ela. Para mim, e para os que são como eu, o mundo não está aí simplesmente para ser visto, e sim para ser visto, conhecido e interpretado.

É claro que a vida não costuma ser fácil para gente assim, que teve desde sempre o pesado encargo de empurrar a humanidade para a frente, geralmente sem contar com o estímulo ou sequer com a compreensão dos demais. Ah, você sempre imaginou que a História tivesse sido feita por homens práticos? Ledo engano. Para o homem prático do século XVI, não fazia a menor diferença que a Terra orbitasse em torno do sol ou que fosse o contrário, porque isso não afetava o seu dia-a-dia. Foi preciso um pensador visionário (visionário: o antônimo de prático) como Copérnico para dar início a uma investigação sobre esse assunto. Quando Benjamin Franklin promoveu uma demonstração pública dos poderes da eletricidade nos Estados Unidos do século XVIII, uma senhora aproximou-se dele ao fim do experimento e disse que aquilo tudo era muito interessante, mas para que servia? De fato, na época, ninguém - nem sequer o próprio Franklin - tinha idéia de para que a energia elétrica poderia servir (!). Respondeu o Da Vinci americano: "Minha senhora, para que serve um bebê?" O que mais admiro nessa resposta não é a presença de espírito de Franklin, mas a paciência que demonstrou ao responder com tamanha cortesia a uma pergunta tão estúpida. Talvez eu seja intolerante, mas me irrito com gente que não consegue entender o valor do conhecimento para além da aplicação prática imediata que ele possa ter. Se dependêssemos de gente assim, ainda estaríamos sentados no chão de uma caverna, batendo pedaços de sílex. E também não teríamos os afrescos de Michelangelo na Capela Sistina, as melodias de Mozart, nem o Guerra e Paz de Tolstoi - coisas que, de um ponto de vista puramente prático, não servem para nada...

Mas podem baixar suas armas, que eu não tenho aqui a intenção de me comparar a Franklin, Michelangelo, Mozart ou Tolstoi, nem a mais ninguém, por falar nisso.

Talvez eu subestime as pessoas em geral, mas tenho a impressão de que a maioria jamais se pergunta nada. Levantam-se sempre à mesma hora, fazem sempre o mesmo trabalho durante o dia todo, voltam para casa, engolem seu arroz com feijão (ou seu filé com champignons - não é uma questão de classe social ou econômica), assistem à novela e vão dormir, para no dia seguinte começar tudo de novo. Friso que o problema não é a rotina em si, pois todo mundo precisa ganhar seu dinheiro de alguma forma, e trabalho normalmente implica em horários fixos e atividades repetitivas. Tudo bem com isso. O problema (ou o que, a meu ver, é um problema) começa quando a vida é só isso. A maioria das pessoas vive no piloto automático. É quando ligamos o computador para redigir um texto (não porque alguém no trabalho ou na faculdade nos pediu, mas meramente porque sentimos o impulso de escrever), ou quando pegamos um violão ou uma flauta para tentar tirar algumas harmonias, ou quando encaramos uma tela vazia com um pincel na mão e uma ruga de concentração na testa, ou quando desafiamos a sensação do ridículo para subir num palco e tentar dizer algumas falas, é então que estamos nos afirmando como seres humanos, e não como algum tipo de criatura orgânica e, mesmo assim, robótica. Para isso as artes, todas elas, foram criadas, e eu iria ainda mais longe afirmando que o anseio, a inquietação básica que move o artista (ou o aspirante a tal) não é essencialmente diferente do que move o verdadeiro cientista. Criar ou investigar, inventar ou descobrir, tudo são formas que cada pessoa tocada por essa inquietação encontra para tentar deixar sua marca no mundo e, talvez mais importante que isso, para regar a sua "selva interior".

"A literatura é uma forma de protestar contra a morte." (Ariano Suassuna)