segunda-feira, janeiro 28, 2008

At the End of the Rainbow

As long as I remember
We've marched across this land
Oh, oh...
Reached for a new horizon
Pulled by the killing hand
Oh, oh...

All fed up with lies
The time has come
To break these chains and fly

Here we stand, bound forever more
We're out of this world, until the end
Here we are, mighty, glorious
At the end of the rainbow
With gold in our hands

We know the treasure lies
Beyond the pouring rain
Oh, oh...
Our quest will last forever
For you it's all the same
Oh, oh...

No one can deny
Our future's set
To reach above the sky

Here we stand, bound forever more
We're out of this world, until the end
Here we are, mighty, glorious
At the end of the rainbow
With gold in our hands

Let's fly away through the rain
Fly high, to ease the burning pain
Oh, the colours fading out
The light is shining in the night
It's up to you, it's worth the fight
Search before the colours fade

Here we stand, bound forever more
We're out of this world, until the end
Here we are, mighty, glorious
At the end of the rainbow
With gold in our hands
* * *

Ser humano é uma coisa muito complicada. Sei que não estou dizendo novidade alguma, mas fazer o que se meus pensamentos andam girando numa órbita que tem esse manjadíssimo fato como eixo central? Eu até poderia dizer que ser humano é complicado, a menos que você se contente em ser um sujeito comum, sem maiores aspirações intelectuais ou artísticas, do tipo que trabalha, assiste futebol, come, dorme, e pouco mais - mas acho que nem mesmo sendo um desses dá para escapar da complicação homérica inerente à condição humana. A mim, pode parecer que quem se contenta com isso tem uma vida simples (simples demais para o meu gosto...), mas na realidade é provável que mesmo esses se vejam às voltas com seus próprios problemas, que para eles também podem parecer bem complicados. That's it.

Para não endoidar no meio disso tudo, acredito que a atitude que temos perante nós mesmos é de fundamental importância. Essa atitude, pelo menos para mim, está sintetizada na resposta que a criatura dá a si própria quando se pergunta: "Vem cá, por que é que você está enfrentando tudo isso? Por que se dá a todo esse trabalho?" E, chamem-me de ingênuo se quiserem, não dou a mínima: para mim é preciso acreditar que o bem ainda é possível, que a beleza é real, que podemos ser gentis e honestos uns com os outros, que é preciso, sim, ter princípios e tentar agir de acordo com eles - tentar, eu disse, pois somos todos falhos e limitados. É fácil não acreditar em nada, dizer que vivemos num mundo podre, que ninguém presta, que nada vale a pena, tornar-se cínico e amargo: é fácil, facílimo, é a coisa mais fácil do mundo, porque, se você se convence de que é assim, tem a desculpa perfeita para ficar destilando seu azedume e não mover uma palha para fazer algo de bom por si mesmo, pelos outros ou pelo planeta. E ainda passa por inteligente aos olhos de muitos!... Não que isso faça diferença para alguém, mas, de mim, esses tipos só receberão desprezo.

Conseguindo ou não chegar ao fim do arco-íris, independentemente disso é preciso segui-lo, é preciso levantar a cabeça, fazer o que pudermos para encorajar nossos companheiros que estão desanimando - e encorajar o outro sempre renova também nossas próprias forças - e ir em frente. Muitos vão ficar pelo caminho, e, se optarem por virar cínicos azedos, nada mais poderemos fazer por eles. Se há ou não ouro ao final do caminho, talvez nunca venhamos a saber, mas, se pensarmos bem, viver seguindo um arco-íris não vale mais que todo o ouro do mundo? Alcançar ou não o objetivo final é uma coisa incerta, como quase tudo nesta vida, mas, mesmo que não o alcancemos, só o fato de termos tentado honestamente e com o coração, já será o bastante para que na hora da morte possamos concluir que não vivemos inutilmente
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quarta-feira, janeiro 09, 2008

Leonardo e o "Lixo"

"Há cem anos, você teria de escalar uma montanha na Índia para aprender a meditar; hoje você pode fazer um curso pela Associação Cristã de Moços, copiar informações pela internet ou escolher entre centenas de livros na livraria mais próxima. Ao mesmo tempo, o excesso de informações contribui para o cinismo perverso, a fragmentação e o sentimento de desamparo. Temos mais possibilidades, mais liberdade, mais opções que quaisquer outros que viveram em nosso planeta. Mas também temos de nos haver com mais detritos, mais mediocridade, mais lixo do que jamais existiu." (Michael J. Gelb)

A citação acima é do livro Aprenda a pensar com Leonardo da Vinci, que, apesar de um certo ranço de auto-ajuda, merece uma leitura, tanto para os que já são fãs do maior gênio do Renascimento quanto para aqueles que ainda não sabem muito sobre ele e estão à procura de um ponto de partida - e que bom se tomarem o livro de Gelb como ponto de partida, ao invés de algum delírio danbrowniano qualquer. Aprenda a pensar... inclui uma breve biografia de Leonardo e, partindo dessa fonte de inspiração, guia o leitor através de pensamentos e exercícios mediante os quais Gelb propõe a quebra de certos hábitos mentais limitadores que a maioria das pessoas desenvolve sem perceber ao longo da vida. São coisas, no fundo, simples, como treinar os sentidos para reconhecer e apreciar a beleza em vez de passar batido por ela, ou dar liberdade para o nosso pensamento criativo funcionar, sem amarrá-lo com preconceitos ou idéias prontas. Todas as dicas são valiosas, mas o que disparou o meu "gatilho" desta vez foi essa citação, que reli hoje, copiada numa velha agenda na época em que li o livro. A questão que propus a mim mesmo foi: será que, a exemplo de certos produtos químicos, também a informação pode ser remédio ou veneno, dependendo da dose?

Diziam os filósofos do mundo greco-romano que a moderação em todas as coisas é a chave de tudo, ou, o que quer dizer o mesmo, que todos os extremos são viciosos. O que observo no dia-a-dia é que com a informação não é diferente.

Lidar com idéias - ressalvando que informação não é idéia, embora seja o ponto de partida mais comum para tê-las - é essencial para que o cérebro humano torne-se e permaneça ágil, pronto e capaz, e não só nos campos diretamente relacionados às tais idéias. Gente acostumada durante muito tempo exclusivamente a atividades braçais costuma demonstrar uma indigência mental que chega a causar espanto. Já lidei com pessoas que, confrontadas com as perguntas mais simples possíveis ("Sua data de nascimento, por favor?"), simplesmente abrem a boca e te olham com os olhos vidrados, como se você tivesse pedido para explicarem a teoria da relatividade de Einstein. Outras pessoas, que trabalham nas mesmas atividades e durante o mesmo tempo que as primeiras, mostram-se espertas e desenvoltas. A diferença? Essas pessoas, às vezes com menos escolaridade que aquelas outras, não deixam que o trabalho braçal que lhes dá o pão seja tudo em suas vidas: têm o hábito de ler jornais, ouvir rádio, informar-se de outras formas, e de conversar com seus colegas de trabalho e familiares sobre a informação assim obtida, debater, desenvolver idéias, formar opiniões. Isso mantém os neurônios fortes e alertas, prontos para qualquer situação que os solicite. Informação é bom.

Também já vi adolescentes e jovens adultos que, tendo recebido a melhor educação formal possível, com acesso a todas as facilidades do mundo moderno, conectados à internet, muitos deles já tendo viajado por vários países, parecem andar sempre com aquele ar vagamente entediado de cachorro bassê, mergulhados numa apatia profunda, num tipo todo especial de alienação que não permite o surgimento de uma fagulha de interesse ou entusiasmo por algum assunto ou atividade, qualquer que seja. Bombardeados dia e noite por milhões de mensagens de todos os tipos imagináveis, e sem preparo intelectual para separar o joio do trigo, esses jovens (e, sejamos sinceros, também outros não tão jovens) acabam jogando a toalha, preferindo fechar-se na concha de um mundo onde nada tem importância, nada vale a pena, e a vida resume-se a uma grande perda de tempo. Quem costuma agradecer por isso são traficantes de drogas e outros tipos que encontram maneiras de lucrar em cima de pessoas que buscam algum sentido para suas vidas, ainda que das maneiras mais estúpidas imagináveis. Hum... Informação é bom?

Informação é bom, dependendo do que se faça com ela. E o que cada pessoa irá fazer com a informação que recebe, depende das ferramentas que possua para tanto. Quando é bem assimilada, submetida a uma análise crítica, relacionada com o que já sabemos sobre o assunto - e sobre outros assuntos - e somada ao nosso repertório mental, a informação transforma-se em conhecimento, e nos enriquece, robustece, torna mais lúcidos, inteligentes e capazes de compreender o universo. Informação é como alimento. Corretamente processada (digerida?), passa a fazer parte do nosso todo. Porém, informação em excesso e/ou de má qualidade não pode ser assimilada como deveria, e, além de não nos trazer proveito, ainda pode nos fazer passar mal...

Quando escrevi acima que o processo de assimilação da informação requer que ela seja correlacionada com o que sabemos não só sobre o mesmo assunto, mas também sobre outros assuntos, não foi só para encompridar a frase. A meu ver, interdisciplinaridade, por mais que seja uma palavra comprida e deselegante, é também essencial, e essa é uma razão a mais para ser fã de Leonardo. Claro que pouquíssimos de nós teriam condições de se igualar a ele, que era pintor, escultor, arquiteto, inventor, geólogo, matemático, naturalista, filósofo, músico e cozinheiro de mão cheia, mas o importante aqui é ver as maravilhas de que nos tornamos capazes quando nos deixamos invadir pelo desejo de saber e de realizar, por um deslumbramento infantil e uma curiosidade sem limites perante o mundo e tudo o que nele existe, e derrubar esse pensamento rasteiro que desmembra o conhecimento humano em áreas incomunicáveis entre si e acredita que cada pessoa só deveria aprender o que vai "usar". Esse é um dos mais graves dentre os hábitos mentais limitadores.

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Amor e genéricos

Estamos mergulhados num mundo onde as coisas chegaram a um ponto, em que muitas vezes as pessoas ficam com medo diante da possibilidade concreta de que um "relacionamento" (por sinal, odeio essa palavra: parece coisa de artigo de revista Cláudia) se transforme em amor. Eu entendo amor como o que acontece quando duas pessoas se dão as mãos após terem deixado cair todas as máscaras e armaduras e, mesmo assim, continuam gostando de olhar nos olhos uma da outra, sentindo-se bem lado a lado e achando tentadora a idéia de terem um único futuro em vez de dois futuros distintos - tudo isso de forma sincera, inteira, sem "e se" nem "talvez". O problema é que a mídia plantou em muitas cabeças a idéia de que uma relação de amor só é boa se tudo for perfeito, um interminável e maravilhoso mar de rosas - e, é claro, isso não existe na vida real. Por conta disso, a maioria simplesmente desiste e "termina" quando se depara com o primeiro obstáculo.

Vamos reconhecer: é bem mais fácil ficar nesse mundinho fútil dos "relacionamentos" do que amar de verdade, porque o amor, embora traga recompensas que nenhuma outra coisa na vida humana pode proporcionar, não oferece essas recompensas de graça - aliás, nada que valha a pena é de graça, isso é uma lei tão velha quanto o mundo: exige esforço e alguns sacrifícios, coisas que cada vez menos pessoas estão dispostas a fazer. Sempre vai ser mais fácil entrar num novo "relacionamento" a cada poucos meses, pular fora na primeira dificuldade e partir para o próximo da fila. Claro, viver desse jeito causa vazio e angústia, mas para que se preocupar com isso quando o mundo moderno oferece tantos paliativos para disfarçá-los? É só se encharcar de álcool ou de qualquer outra droga, afundar no trabalho como um condenado, dedicar-se ao sexo desvinculado de sentimento, descontar a frustração nas compras, "malhar" sem parar... Há muletas para todo tipo de aleijado.