Seria de se esperar, com base na boa e velha lógica, que um cara que tem uma maioria de amigas, e poucos amigos, como é o caso deste que aqui digita seus confusos pensamentos, tivesse à sua disposição um panorama ilustrativo do universo feminino e melhores condições de entender como funciona a mente (e, muito mais importante, a alma) dessas fascinantes e enlouquecedoras (no bom e no mau sentido) representantes da metade da humanidade dotada de ovários. Acontece que, como em tudo relacionado às mulheres, a lógica simplesmente não funciona nesse caso.
Não espero que ajam com perfeita coerência, primeiro porque isso tiraria delas a natureza emotiva que é em grande parte a responsável por torná-las tão interessantes, e, segundo, porque acho que ninguém deveria exigir de outrem algo que também não é capaz de fazer, mas será que mexeria com a ordem do universo se existisse pelo menos uma que não agisse sempre de maneira tão estapafúrdia que, por totalmente imprevisível, acabasse se tornando previsível? (Pois, depois de um certo número de vezes ficando perplexo com os atos delas, você acaba compreendendo que só precisa perguntar-se qual seria a conduta mais absurda e sem sentido imaginável numa determinada situação, e sempre esperar isso delas. E pronto: não será mais pego de surpresa.) Sairiam os planetas de suas órbitas se porventura aparecesse uma única mulher que sentisse ao menos um pequeno desconforto cada vez que fizesse uma promessa solene para depois não a cumprir, em vez de aparentemente considerar isso uma prerrogativa de seu sexo? Ou que, antes de fazer promessas, tirasse um instante para se perguntar se iria ou não cumpri-las e, em caso negativo, não prometesse?
Quando eu tinha uns 13 anos, apareceu no meio da minha turma da escola uma publicação muito interessante que circulou de mão em mão, apenas entre os garotos - não, não era revista de sacanagem. Tratava-se de um livrinho que se propunha a ensinar macetes de como conquistar as garotas. Pouco lembro do que li nele, e o que lembro me parece, hoje em dia, ser um apanhado de coisas que não iam muito além do simples bom senso (não que, naquela idade, nós tivéssemos algum). Mas lembro que o livro era salpicado de frases de efeito, e, como na época eu já era maníaco por citações, algumas me ficaram na memória. Uma delas dizia que as mulheres são tanto melhor amadas quanto pior compreendidas. Só muitos anos depois é que eu fui perceber toda a verdade que existe por trás desse pequeno e aparentemente absurdo aforismo.
Pois a verdade, meus caros (e agora dirijo-me aos meus colegas usuários de Prestobarba) é que as meninas não querem ser compreendidas. Ou melhor, até querem, mas só pelos amigos. Não se esforce para entendê-las: de qualquer forma, é pouco provável que consiga, e, se conseguir, isso só fará com que elas deixem de vê-lo como um ente masculino - você vai virar um amigo, e, para a mulher, amigo é um ser assexuado. Um homem pode vir a apaixonar-se por uma amiga, mas nunca o contrário: para uma mulher, a partir do momento em que ela passar a te considerar um amigo, qualquer possibilidade de algo mais definitivamente morreu. Para nós, a companheira desejada é uma em quem confiemos; para elas, nada existe de mais antiafrodisíaco que confiança. Isso é o que faz o cara cafajeste tão irresistível e o sincero tão sem graça. Pessoalmente, penso que a namorada, companheira, amante, esposa adequada (e notem que eu não disse "ideal", pois isso não existe) seria aquela que, além de ser todas essas coisas, fosse também minha melhor amiga, a pessoa que tivesse prioridades e interesses semelhantes aos meus, que desse importância às mesmas coisas que eu, com quem eu pudesse conversar sobre tudo, de quem eu não guardasse nenhum segredo, cuja companhia eu achasse mais divertida que a de qualquer "mano", e que me entendesse. Já para as garotas, parece ser impossível conciliar romance e sexo com esse tipo de cumplicidade: para elas, as duas áreas são incomunicáveis. Não se misturam, são água e óleo. Um cara é para namorar e transar, outro é para conversar, fazer coisas juntos, trocar desabafos, dar apoio. Os dois são necessários, mas não podem ser a mesma pessoa: um que sirva no primeiro campo fica inelegível para o segundo, e vice-versa. Assim funciona a cabeça feminina - detalhes ou motivos, eu não sei. Acho que elas também não.
Num de seus mais belos poemas, o grande Olavo Bilac diz que "ouve estrelas", e finaliza assim: "Direis agora: 'Tresloucado amigo! / Que conversas com elas? Que sentido / Tem o que dizem, quando estão contigo?' / E eu vos direi: 'Amai para entendê-las! / Pois só quem ama pode ter ouvido / Capaz de ouvir e de entender estrelas.'" Não sei até que ponto amar pode ajudar a entender seja o que for, e uma das vantagens de ser poeta é estar dispensado de ser fiel aos fatos (é a famigerada "licença poética"), mas, num primeiro momento, pareceu-me que escrever a respeito - já que escrever sempre me ajuda a organizar os pensamentos - poderia me fazer chegar um pouco mais perto de entender esses seres maravilhosos e enfurecedores chamados mulheres. Ledo engano: entendê-las não é possível, e, se o fosse, não serviria para nada. Compreendidas ou não, elas continuariam prometendo e não cumprindo, desejando coisas e temendo-as ao mesmo tempo, buscando seus sonhos com persistência e coragem que nós homens nunca conseguiríamos igualar e, ao se verem cara a cara com a possibilidade da realização do sonho, virando as costas e fugindo. De qualquer forma, as estrelas, apesar de "femininas", são interlocutoras bem mais acessíveis!