Conversando com uma amiga, pouco tempo atrás, ouvi dela uma reclamação que já havia ouvido inúmeras vezes, de inúmeras pessoas diferentes, e que, tendo ela naquele momento a necessidade (ao menos, psicológica) de fazer, tocou a mim, na qualidade de único representante do sexo masculino ali presente, o papel de "ouvidor" - que é diferente de um simples ouvinte: ouvidor era o ocupante de um antigo cargo de justiça, a quem competia, como o nome indica, ouvir as queixas das pessoas que pleiteavam alguma causa. E a queixa dessa minha amiga era: "Puxa, como é raro a gente encontrar um homem romântico..." Não me contive que não fizesse a pergunta: "E o que vem a ser um homem romântico?" Só a longa pausa que ela fez antes de responder bastou para deixar óbvio que, ao menos na cabeça das mulheres, "homem romântico" é uma daquelas coisas mais fáceis de identificar do que de definir. Quando finalmente falou, eis, mais ou menos, o que ela disse: "Ah, romântico é aquele cara que é carinhoso, gentil, atencioso, que se liga no que a namorada quer ou precisa, que não tem vergonha de fazer um carinho ou um elogio, que sabe falar coisas bonitas que façam a menina se sentir especial..." Essa definição também não era muito diferente de muitas outras que eu já tinha ouvido. Fiz minha melhor cara incrédula e rebati: "E vocês gostam disso?" A reação dela foi bem a que eu previa: pareceu chocada com a minha dúvida e respondeu com muita ênfase: "Ora, é claro que gostamos! É o que toda garota sonha!" E eu: "Então, por que agem tão em desacordo com esse desejo?"
(Parêntese 1: Se ela vier a ler este texto [e sei que vai ler], peço vênia se as frases não estiverem muito exatas, pois transcrevi tudo de memória. Se houver alguma discrepância muito grande, avise, que eu altero! :P)
Vamos falar claramente: eu, e também um ou dois amigos meus, somos caras que não temos a menor vergonha de nos dizer românticos até a medula. Correspondemos ponto por ponto a todas as exigências expressas por essa moça, e a mais algumas - e as histórias que já ouvimos uns dos outros por cima de várias mesas demonstraram que nenhum de nós é estranho à experiência de ver garotas de quem gostamos nos darem as costas para ir atrás de um ogro qualquer (sem ofender o Shrek, que é um ogro muito simpático e decente). E por cima dessas mesmas mesas instalou-se o inevitável debate: por que é que, da boca pra fora, toda mulher quer um namorado romântico - mas, na hora de encarar a situação prática, invariavelmente prefere um cara que ocupa todo um hemisfério do cérebro com o item cerveja (pois o outro hemisfério é reservado ao item futebol)? Que se esquece da existência dela durante uma inteira tarde de domingo porque o Grêmio (ou outro time) está jogando?? Que acha um saco ter que conversar com uma namorada??? Que acha que "amigo de mulher é cabeleireiro"???? Que concorda com a frase do célebre personagem de Luís Fernando Veríssimo que diz que "mulher só serve pra três coisas, e pra duas tem diarista"?????
(Parêntese 2: Um de meus amigos terminou de mastigar o que tinha na boca e tentou dar resposta a essa questão crucial: "Porque mulher é um ser ilógico!" Valeu, Albano, mas que tal me dizer alguma coisa que eu ainda não sei?)
Ilógica, toda criatura humana é, em maior ou menor grau (embora não haja o que discutir que, nesse quesito, as mulheres são mestras, e os homens, meros aprendizes...), o que não impede que façamos escolhas baseadas em nossos desejos e preferências. Quem odeia misturebas de salgado com doce, como eu, por exemplo, não vai escolher "peru à califórnia" quando a mãe lhe perguntar o que gostaria que fosse preparado para o almoço de seu aniversário. Então, por que uma moça que sonha com atenção e romantismo escolhe quase sempre um namorado que não só arrota alto em público, como ainda se gaba disso como de um feito heróico? Um cara que não vai nem lembrar de ligar para ela no dia dos namorados? Que a trata de forma grosseira? Um sujeito com quem fatalmente ela vai se frustrar e se aborrecer?
Uma hipótese razoável é que "o que é fácil não tem graça". Talvez, inconscientemente, a mulher sinta que a companhia de um homem que sempre vai tratá-la bem e que sente sincero prazer em agradá-la oferece muito pouco em termos de "emoção". É muito mais desafiador pegar um cara que não é nem de longe romântico ou gentil, e passar anos, às vezes a vida toda, fazendo um esforço hercúleo para mudá-lo - mesmo sabendo, lá no fundo, que isso é impossível, que as pessoas não mudam, ou melhor, até podem mudar, mas somente por esforço e vontade próprios, nunca de outra pessoa... O mais patético é que, se, por força de algum milagre, ela conseguisse de fato transformá-lo, seria para logo em seguida perder o interesse por ele. O cara cafajeste é fascinante justamente por ser cafajeste: se um dia ele se apaixona e resolve se regenerar, aos olhos das mulheres seu poder de sedução desaparece.
Ou seria porque, pelas convenções que regem a sociedade, um homem muito gentil e educado é considerado pouco condizente com a figura do macho-padrão? Na Idade da Pedra, o homem que batia mais forte e gritava mais alto levava vantagem na hora da divisão da caça, o que o fazia um melhor provedor do que aqueles com menos gosto pela violência - e por isso, os "ogros" eram os preferidos pelas mulheres. Talvez as mulheres de hoje estejam muito mais próximas de suas antecessoras pré-históricas do que gostariam de admitir... Desconfio que elas gostem da idéia (eu disse da idéia, que é por natureza apenas uma abstração) de serem amadas e bem tratadas, porque, sendo criaturas mais sensíveis e delicadas, desejem ser tratadas de acordo... Só que, ao terem que escolher um companheiro de fato (um cara de carne e osso), optam pelo que coça o saco em público, só pensa em futebol, dá muito mais atenção ao carro do que à esposa e acha romantismo coisa de boiola, meramente porque a sociedade convencionou que essa é a conduta de um "homem de verdade" - e as mulheres, inconscientemente, introjetaram essa noção.
O amor tem necessariamente que ser uma coisa complicada, já que é o encontro de dois universos infinitos que são as mentes e corações de duas pessoas. Mas talvez o que mais o torna complicado seja o fato de nenhum dos dois sexos saber direito o que realmente espera do outro... Por que será tão difícil lidar com a situação de nos ser oferecido exatamente aquilo com que sonhamos? A amiga cujo desabafo inspirou este artigo chama isso de "síndrome do não-pode-ser-verdade". Será isso uma prova de que eventualmente as mulheres também podem estar conscientes do que acontece com elas?... Espero que seja.
(Parêntese 1: Se ela vier a ler este texto [e sei que vai ler], peço vênia se as frases não estiverem muito exatas, pois transcrevi tudo de memória. Se houver alguma discrepância muito grande, avise, que eu altero! :P)
Vamos falar claramente: eu, e também um ou dois amigos meus, somos caras que não temos a menor vergonha de nos dizer românticos até a medula. Correspondemos ponto por ponto a todas as exigências expressas por essa moça, e a mais algumas - e as histórias que já ouvimos uns dos outros por cima de várias mesas demonstraram que nenhum de nós é estranho à experiência de ver garotas de quem gostamos nos darem as costas para ir atrás de um ogro qualquer (sem ofender o Shrek, que é um ogro muito simpático e decente). E por cima dessas mesmas mesas instalou-se o inevitável debate: por que é que, da boca pra fora, toda mulher quer um namorado romântico - mas, na hora de encarar a situação prática, invariavelmente prefere um cara que ocupa todo um hemisfério do cérebro com o item cerveja (pois o outro hemisfério é reservado ao item futebol)? Que se esquece da existência dela durante uma inteira tarde de domingo porque o Grêmio (ou outro time) está jogando?? Que acha um saco ter que conversar com uma namorada??? Que acha que "amigo de mulher é cabeleireiro"???? Que concorda com a frase do célebre personagem de Luís Fernando Veríssimo que diz que "mulher só serve pra três coisas, e pra duas tem diarista"?????
(Parêntese 2: Um de meus amigos terminou de mastigar o que tinha na boca e tentou dar resposta a essa questão crucial: "Porque mulher é um ser ilógico!" Valeu, Albano, mas que tal me dizer alguma coisa que eu ainda não sei?)
Ilógica, toda criatura humana é, em maior ou menor grau (embora não haja o que discutir que, nesse quesito, as mulheres são mestras, e os homens, meros aprendizes...), o que não impede que façamos escolhas baseadas em nossos desejos e preferências. Quem odeia misturebas de salgado com doce, como eu, por exemplo, não vai escolher "peru à califórnia" quando a mãe lhe perguntar o que gostaria que fosse preparado para o almoço de seu aniversário. Então, por que uma moça que sonha com atenção e romantismo escolhe quase sempre um namorado que não só arrota alto em público, como ainda se gaba disso como de um feito heróico? Um cara que não vai nem lembrar de ligar para ela no dia dos namorados? Que a trata de forma grosseira? Um sujeito com quem fatalmente ela vai se frustrar e se aborrecer?
Uma hipótese razoável é que "o que é fácil não tem graça". Talvez, inconscientemente, a mulher sinta que a companhia de um homem que sempre vai tratá-la bem e que sente sincero prazer em agradá-la oferece muito pouco em termos de "emoção". É muito mais desafiador pegar um cara que não é nem de longe romântico ou gentil, e passar anos, às vezes a vida toda, fazendo um esforço hercúleo para mudá-lo - mesmo sabendo, lá no fundo, que isso é impossível, que as pessoas não mudam, ou melhor, até podem mudar, mas somente por esforço e vontade próprios, nunca de outra pessoa... O mais patético é que, se, por força de algum milagre, ela conseguisse de fato transformá-lo, seria para logo em seguida perder o interesse por ele. O cara cafajeste é fascinante justamente por ser cafajeste: se um dia ele se apaixona e resolve se regenerar, aos olhos das mulheres seu poder de sedução desaparece.
Ou seria porque, pelas convenções que regem a sociedade, um homem muito gentil e educado é considerado pouco condizente com a figura do macho-padrão? Na Idade da Pedra, o homem que batia mais forte e gritava mais alto levava vantagem na hora da divisão da caça, o que o fazia um melhor provedor do que aqueles com menos gosto pela violência - e por isso, os "ogros" eram os preferidos pelas mulheres. Talvez as mulheres de hoje estejam muito mais próximas de suas antecessoras pré-históricas do que gostariam de admitir... Desconfio que elas gostem da idéia (eu disse da idéia, que é por natureza apenas uma abstração) de serem amadas e bem tratadas, porque, sendo criaturas mais sensíveis e delicadas, desejem ser tratadas de acordo... Só que, ao terem que escolher um companheiro de fato (um cara de carne e osso), optam pelo que coça o saco em público, só pensa em futebol, dá muito mais atenção ao carro do que à esposa e acha romantismo coisa de boiola, meramente porque a sociedade convencionou que essa é a conduta de um "homem de verdade" - e as mulheres, inconscientemente, introjetaram essa noção.
O amor tem necessariamente que ser uma coisa complicada, já que é o encontro de dois universos infinitos que são as mentes e corações de duas pessoas. Mas talvez o que mais o torna complicado seja o fato de nenhum dos dois sexos saber direito o que realmente espera do outro... Por que será tão difícil lidar com a situação de nos ser oferecido exatamente aquilo com que sonhamos? A amiga cujo desabafo inspirou este artigo chama isso de "síndrome do não-pode-ser-verdade". Será isso uma prova de que eventualmente as mulheres também podem estar conscientes do que acontece com elas?... Espero que seja.
3 comentários:
É verdade que mulher nunca sabe o que quer. Homem, tampouco.
Já sofri dessa síndrome, e o resultado foi o envolvimento com os tipos mais estranhos - e quase teve um final trágico. Hoje estou com um xará seu que compartilha desse compromisso com a sensibilidade e simplesmente faz de tudo para me agradar, para me manter perto e feliz. Precisa dosar paciência, sensatez, sensibilidade e carinho - não é só uma questão de mandar flores, lembrar do aniversário ou ser um cavalheiro. Às vezes ser romântico tem mais a ver com manter a sanidade dessa pobre criatura fêmea, que parece nunca ficar satisfeita. Always a catch.
Mas, por outro lado, os homens estão satisfeitos? Contentam-se em ter uma única moreninha franzina quando os genes e o instinto de sobrevivência dos nossos selvagens antecessores gritam testosterona em alto e bom som quando lhes cruza o caminho ou a vista uma bela loira de seios fartos e quadril bem desenhado?
Se é questão de evocar a ciência e a antropologia para entender a tendência das mulheres a se envolver com cafajestes, há de se concordar que os homens (românticos ou não) carregam um karma genético igualmente confuso.
A mulher que inspira a libido masculina tem características que a marcam como uma boa reprodutora, capaz de perpetuar nela os genes nervosos daqueles caras que estão com sua breja, assistindo no intervalo do jogo do Grêmio aquela bela publicidade de cerveja repleta do que todo homem carrega inconscientemente todas as 24 horas do dia, todos os 7 dias da semana: sexo, sexo, sexo.
As mulheres, que também desejam perpetuar seus genes (ora, é o objetivo de qualquer espécie, só inventamos esse negócio de ser feliz para não parecermos tão animais, mas em suma, é isso sim) então procuram atender a demanda do que elas julgam ser o mercado dominante - já que, como você mesmo pontuou, os mais ogros têm mais chance de se destacar em um bando, sobreviver e se reproduzir.
Da mesma forma que os homens românticos fogem do padrão lógico da evolução das espécies, as mulheres desprovidas de atributos sexuais de atração também. Mas são justamente esses curiosos exemplares que empurram a raça humana para seu aperfeiçoamento intelectual, já que usam outros meios de sedução e envolivmento do que a dança do acasalamento das baladas de hoje em dia.
As mulheres vão continuar desejando homens com sensibilidade, mas vão continuar se envolvendo com homens cafajestes. Por falta de mercado de homens decentes, talvez - tem que ralar muito para encontrar um. Talvez pelo senso materno gritante de querer cuidar de um traste desses, de transformá-lo, como você bem disse. Talvez por se sentirem premiadas pela evolução de conseguir um parceiro tão neandertal (graças a deus estão incentivando o uso da camisinha). Nunca se sabe (prefiro manter o meu romântico, por mais que às vezes a minha própria natureza feminina me lembre que eu não vá me satisfazer nem com tudo aquilo).
Ao mesmo tempo, os homens continuarão a piorizar mulheres inteligentes e com personalidade para ter como parceiras. Mas continuarão a desejar nervosamente cada coelhinha da Playboy em suas fantasias secretas.
Faz parte do que costumo chamar de "escrotidão humana".
Continue a escrever, Marcos!
Saudades!
;*
Sábias palavras! (...) Concordo com você quando afirma que as mulheres preferem os Ogros. Não tenho namorado, mas a convivência e a confidência de várias amigas me levam a acreditar piamente nisso. Quando o homem é muito "bonzinho", as mulheres rejeitam, humilham, se cansam facilmente e até traem! Fazem a projeção do príncipe encantado, mas preferem o solteiro convicto que prima pelo relacionamento aberto e diz não ao compromisso e ao "romantismo". Não é à toa que "ninguém entende as mulheres"... Mas como toda regra... há excessões (pelo menos é o que espero). Talvez eu seja uma sonhadora ou romântica idealizadora, mas não abro mão do romantismo e tenho a convicção que ainda existem homens que se encaixem no meu perfil. Só espero que eles apareçam o mais rápido possível por aqui, porque estou prestes a desistir (risos). Será que o problema é comigo ou todos os homens mudaram para atender as preferências da maioria das mulheres? Por que são tão "anti-românticos"? Vi ou pelo menos inferi que você se considera um dos últimos românticos. Parabéns pra você! E se ainda não está satisfeito com o amor ou com as mulheres, continue procurando. O amor é uma eterna busca (é uma clichê, mas a pura verdade). A maioria prima pela quantidade em detrimento da qualidade. Mas, como não desisto facilmente... sei que ainda encontrarei o amor, mas o amor de um homem romântico! Abraços
Penso que na vida nem sempre as coisas são assim dessa forma..
Já tive os principes e ogres e penso que tem tudo haver com o momento e com a quimica.
E realmente estranho e acho que isso acontece com os gajos também.
São principes(aqueles que quse ngm quer como disses)mas so querem fionas também.
è relativo,uma mulher feia não quer um homem feio,quer um bonito e o bonito não quer a feia ,quer a bonita.
e vice versa com o home.
Mulherengos...há muitos tipos de mulherengos,assim como é raro os hopmens que são fiéis...feio ou bonito...acho que basta ser homem para trair...
Nos mulheres somos todas diferentes e procuramos coisas diferentes o ideal e amar mos uma pessoa que tenha 50% de qualidades que nos agrade e defeitos que sabemos lidar,a atração é a 1º conta o resto so com o tempo se ve.
penso que o facto de não querermos ser como na altura das nossas avos que tinham relações horrivéis de submissão e pela imensa falta de respeito dos homens ,fez com que nos tornasse mos assim,diferentes...
E sem duvida que raro estarmos satisfeitas com algo,queremos sempre mais e mais,e chega a uma altura que nem nos sabemos mais o que queremos,e com as desilusões na vida,temos medo de acabar como aquelas que criticamos que aceitam e aturam tudo de um home.
Sabem porque ngm muda ngm,as pessoas pouco ou nada mudam daquilo que realmente são.
Por isso alguém vai aturar esse mulherengos,tem que se encontrar os menos ou aqueles já com 30 tal anos que já se cansaram.
porque quase todos com opurtunidade traem.
tanto quanto as mulheres hoje em dia.
temos que aprendee aceitar e nunca mudar,pq e uma luuta sem fim.
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