sexta-feira, janeiro 04, 2008

Amor e genéricos

Estamos mergulhados num mundo onde as coisas chegaram a um ponto, em que muitas vezes as pessoas ficam com medo diante da possibilidade concreta de que um "relacionamento" (por sinal, odeio essa palavra: parece coisa de artigo de revista Cláudia) se transforme em amor. Eu entendo amor como o que acontece quando duas pessoas se dão as mãos após terem deixado cair todas as máscaras e armaduras e, mesmo assim, continuam gostando de olhar nos olhos uma da outra, sentindo-se bem lado a lado e achando tentadora a idéia de terem um único futuro em vez de dois futuros distintos - tudo isso de forma sincera, inteira, sem "e se" nem "talvez". O problema é que a mídia plantou em muitas cabeças a idéia de que uma relação de amor só é boa se tudo for perfeito, um interminável e maravilhoso mar de rosas - e, é claro, isso não existe na vida real. Por conta disso, a maioria simplesmente desiste e "termina" quando se depara com o primeiro obstáculo.

Vamos reconhecer: é bem mais fácil ficar nesse mundinho fútil dos "relacionamentos" do que amar de verdade, porque o amor, embora traga recompensas que nenhuma outra coisa na vida humana pode proporcionar, não oferece essas recompensas de graça - aliás, nada que valha a pena é de graça, isso é uma lei tão velha quanto o mundo: exige esforço e alguns sacrifícios, coisas que cada vez menos pessoas estão dispostas a fazer. Sempre vai ser mais fácil entrar num novo "relacionamento" a cada poucos meses, pular fora na primeira dificuldade e partir para o próximo da fila. Claro, viver desse jeito causa vazio e angústia, mas para que se preocupar com isso quando o mundo moderno oferece tantos paliativos para disfarçá-los? É só se encharcar de álcool ou de qualquer outra droga, afundar no trabalho como um condenado, dedicar-se ao sexo desvinculado de sentimento, descontar a frustração nas compras, "malhar" sem parar... Há muletas para todo tipo de aleijado.

3 comentários:

Anônimo disse...

Caro amigo Marcos,
Apreciei deveras este artigo. Costumo aplicar esta expressão "genérico" quando me refiro aos homens mundanos, que nada tem a me oferecer em termos de amor ou amizade, em termos de "relacionamento" - também abomino essa palavra, não apenas porque me lembra "coisa de artigo de revista Claudia mas porque a mesma já perdeu há tempos seu significado original, passando a ter conotação empresarial, vide as políticas de relacionamento das operadoras de telefonia. "Genéricos" são aqueles "ogros" de que falamos por carta, são os "relacionamentos" enlatados, como as sopas Campbell´s, que servem para confortar seu espírito por algumas horas até que seu estômago torne a roncar. Os relacionamentos hodiernos são perecíveis, são one way. É muito mais fácil "ficar" - outra palavra que perdeu o sentido original - com alguém numa festa do que "permanecer" ao lado de alguém por livre arbítrio e correr o risco de se comprometer. A sociedade peca pela falta de compromisso generalizada.Não sei se me fiz clara mas fica registrada aqui uma tentativa.
Beijo solidário e jamais genérico,
B.

Anônimo disse...

Marcos,
Nunca economizei palavras ao discorrer sobre a futilidade desse mundo em que habitamos, onde somos constantemente atrelados às inexoráveis regras de um capitalismo insano que devora nossas almas e tudo que podia haver de bom dentro delas, distorcendo até mesmo coisas puras e singelas como o amor, transformando-o em mero artigo de prateleira. E é assim que muitos enxergam algo que não é sequer um sentimento, ao contrário do que Cláudias da vida poderiam dizer como supostas especialistas em relacionamentos; amor é uma decisão, como você mui magistralmente descreveu no início do artigo. Acredito que o sentimento apregoado pela mídia e por todo mundo que se entende um pouco por especialista em amor (quem não é hoje em dia?) não passa do impulso biológico que conduz a nossa raça a perpetuação, unindo pessoas em "relacionamentos" para que seja propícia a relação sexual (se bem que a nossa raça evoluiu ao ponto de não precisar mais de preliminares para ocorrer o ato em si! Será que Darwin previu isso?), e especialistas comprovam que este sentimento que deixam as pessoas bobas não dura mais de dois anos. O amor como decisão, como escolha consciente de pagar um preço por um futuro em comum com alguém especial, entretanto, não pode ser encontrado em prateleira alguma, porque não é um pacote que vem pronto... Precisa ser moldado com muita paciência, assim como uma espada obra-prima, temperada e forjada por muitos anos pacientemente pelo ferreiro antes de ficar perfeita para a batalha...
Sem mais, depois de você já ter dito da forma mais perfeita possível o que eu gostaria de dizer para uma pessoa, encerro com um carinhoso beijo e com meus votos que seus textos façam o merecido sucesso!

Kelly disse...

Minha opinião é pequena, acredito que o maior problema das pessoas é a falte de coragem de "discutir", de falar o que não agrada ou simplesmente conversar. As pessoas vivem na aparência de que esta tudo bem e só os mais sensíveis conseguem perceber a verdade. Gostei de teu texto, eu não consigo me expressar com palavras escritas. Admiro quem consegue.