Posso pensar numa infinidade de coisas melhores para se fazer numa bela e amena manhã de quarta-feira quando se está de férias (uau!), mas, como era necessário, lá fui eu para um representante autorizado da Vivo, a fim de providenciar a troca do meu velho aparelho. Por mim, continuaria com ele, que sempre me serviu muito bem ao longo de anos, só que, como o "progresso" não pára, a tecnologia TDMA deixou de funcionar este mês; então, querendo ou não, eu teria que adotar um celular mais "muderno". Algumas semanas atrás recebi uma ligação da Vivo prometendo enviar alguém para fazer a troca na minha casa num prazo de sete dias úteis, mas, como ninguém apareceu, tive que me mexer para não acabar ficando sem o serviço.
Chegando ao local, meu primeiro pensamento foi que devia ter deixado a preguiça de lado e acordado bem mais cedo: naquele momento passava um pouco das oito horas e já havia diante da porta da loja (que só abriria às nove) uma longa fila de pessoas movidas pela minha mesma necessidade. Tomei lugar no fim da fila e coloquei nos ouvidos os fones do meu discman, que tivera a boa idéia de trazer comigo, juntamente com um bom livro. Tinha escolhido um CD de MP3 já pensando nessa situação: mais de 120 músicas de boas bandas de hard rock e heavy metal. Gosto de muitos tipos de música - rock, new age, MPB, música clássica, alguma coisa de blues... - mas, para longas esperas em filas, prefiro ouvir sons pesados, porque é melhor para isolar tudo o que venha de fora dos fones. Change to random mode and press play... (Stratovarius, Forever Free, 6:00) Enquanto o excelente metal melódico da banda finlandesa começava a se derramar dos fones, percorri a fila com os olhos e avaliei que ficaria ali algumas horas, já que cada pessoa, ao ser atendida, precisava escolher um novo aparelho, ter seu bônus verificado, e, conforme o caso, negociar a forma de pagamento, além do procedimento de transferência da linha, o que, tudo junto, deveria demorar cerca de uma hora por cabeça. Ao contrário do senso comum, que seria ter pena de mim mesmo e dos outros clientes, fiquei com pena dos funcionários, pois sei, por uma longa experiência, que só há uma coisa pior que esperar horas numa fila: estar sentado atrás de um balcão, atendendo as pessoas que esperaram horas numa fila.
(Dio, Sacred Heart, 6:20) Depois de aproximadamente uma hora na fila, por fim cheguei perto do terminal onde um funcionário distribuía as senhas, de acordo com o serviço que o cliente necessitasse. Ou seja, era uma hora de espera apenas para tirar a senha e poder realmente começar a espera que contava. Observei distraidamente uma senhora gesticulando enfaticamente e movendo os lábios com energia, enquanto o funcionário assumia aquela expressão de paciência martirizada que bem conheço. Em pensamento, dei os parabéns a mim mesmo por ter trazido o discman: sentia-me contentíssimo de não poder ouvir uma palavra do que estava sendo dito.
O fato é que, ao me ver em situações semelhantes, como costumava acontecer nos bancos há poucos anos (antes de os abençoados terminais de auto-atendimento praticamente eliminarem a necessidade de se entrar nas agências), sempre preferi aproveitar o tempo para algo de construtivo, como ler, por exemplo. Enquanto isso, a quase totalidade das pessoas à minha frente e atrás de mim usavam esse tempo reclamando azedamente umas com as outras e xingando todo mundo que lhes ocorresse xingar, desde o governo até os funcionários nos guichês. Suponho que experimentassem com isso alguma espécie de satisfação deturpada que nunca serei capaz de entender. (Edguy, Catch of the Century, 4:03) Pergunto-me, e desafio qualquer pessoa que me leia a dar uma resposta razoável: ficar se irritando e jogando bílis no próprio sangue tem o poder de fazer uma fila andar mais depressa? Então, para que desperdiçar energia com algo que terá o único efeito de tornar sua própria existência um pouco mais miserável?
A mesma coisa, com as alterações adequadas a cada situação, pode ser aplicada a um grande número de áreas da nossa vida diária, e acho surpreendente que a vasta maioria das pessoas nunca se dêem conta disso. O stress existe, é uma realidade e por vezes não temos como fugir dele - mas por que não nos contentamos com o stress que a vida se encarrega de nos impor, e ainda fazemos questão de nos estressar voluntariamente quando isso é desnecessário e inútil?
2 comentários:
Querendo ou não, as filas são um dos adventos da civilização. Só não os são os serviços de atendimento ao cliente das operadoras de telefonia celular!
Ah como me identifiquei....
eu sempre prevenida, vou para filas com música e livro.
E não é que isso realmente faz elas andarem mais rápido?
beijos
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