quarta-feira, abril 09, 2008

Vivo

Posso pensar numa infinidade de coisas melhores para se fazer numa bela e amena manhã de quarta-feira quando se está de férias (uau!), mas, como era necessário, lá fui eu para um representante autorizado da Vivo, a fim de providenciar a troca do meu velho aparelho. Por mim, continuaria com ele, que sempre me serviu muito bem ao longo de anos, só que, como o "progresso" não pára, a tecnologia TDMA deixou de funcionar este mês; então, querendo ou não, eu teria que adotar um celular mais "muderno". Algumas semanas atrás recebi uma ligação da Vivo prometendo enviar alguém para fazer a troca na minha casa num prazo de sete dias úteis, mas, como ninguém apareceu, tive que me mexer para não acabar ficando sem o serviço.

Chegando ao local, meu primeiro pensamento foi que devia ter deixado a preguiça de lado e acordado bem mais cedo: naquele momento passava um pouco das oito horas e já havia diante da porta da loja (que só abriria às nove) uma longa fila de pessoas movidas pela minha mesma necessidade. Tomei lugar no fim da fila e coloquei nos ouvidos os fones do meu discman, que tivera a boa idéia de trazer comigo, juntamente com um bom livro. Tinha escolhido um CD de MP3 já pensando nessa situação: mais de 120 músicas de boas bandas de hard rock e heavy metal. Gosto de muitos tipos de música - rock, new age, MPB, música clássica, alguma coisa de blues... - mas, para longas esperas em filas, prefiro ouvir sons pesados, porque é melhor para isolar tudo o que venha de fora dos fones. Change to random mode and press play... (Stratovarius, Forever Free, 6:00) Enquanto o excelente metal melódico da banda finlandesa começava a se derramar dos fones, percorri a fila com os olhos e avaliei que ficaria ali algumas horas, já que cada pessoa, ao ser atendida, precisava escolher um novo aparelho, ter seu bônus verificado, e, conforme o caso, negociar a forma de pagamento, além do procedimento de transferência da linha, o que, tudo junto, deveria demorar cerca de uma hora por cabeça. Ao contrário do senso comum, que seria ter pena de mim mesmo e dos outros clientes, fiquei com pena dos funcionários, pois sei, por uma longa experiência, que só há uma coisa pior que esperar horas numa fila: estar sentado atrás de um balcão, atendendo as pessoas que esperaram horas numa fila.

(Dio, Sacred Heart, 6:20) Depois de aproximadamente uma hora na fila, por fim cheguei perto do terminal onde um funcionário distribuía as senhas, de acordo com o serviço que o cliente necessitasse. Ou seja, era uma hora de espera apenas para tirar a senha e poder realmente começar a espera que contava. Observei distraidamente uma senhora gesticulando enfaticamente e movendo os lábios com energia, enquanto o funcionário assumia aquela expressão de paciência martirizada que bem conheço. Em pensamento, dei os parabéns a mim mesmo por ter trazido o discman: sentia-me contentíssimo de não poder ouvir uma palavra do que estava sendo dito.

O fato é que, ao me ver em situações semelhantes, como costumava acontecer nos bancos há poucos anos (antes de os abençoados terminais de auto-atendimento praticamente eliminarem a necessidade de se entrar nas agências), sempre preferi aproveitar o tempo para algo de construtivo, como ler, por exemplo. Enquanto isso, a quase totalidade das pessoas à minha frente e atrás de mim usavam esse tempo reclamando azedamente umas com as outras e xingando todo mundo que lhes ocorresse xingar, desde o governo até os funcionários nos guichês. Suponho que experimentassem com isso alguma espécie de satisfação deturpada que nunca serei capaz de entender. (Edguy, Catch of the Century, 4:03) Pergunto-me, e desafio qualquer pessoa que me leia a dar uma resposta razoável: ficar se irritando e jogando bílis no próprio sangue tem o poder de fazer uma fila andar mais depressa? Então, para que desperdiçar energia com algo que terá o único efeito de tornar sua própria existência um pouco mais miserável?

A mesma coisa, com as alterações adequadas a cada situação, pode ser aplicada a um grande número de áreas da nossa vida diária, e acho surpreendente que a vasta maioria das pessoas nunca se dêem conta disso. O stress existe, é uma realidade e por vezes não temos como fugir dele - mas por que não nos contentamos com o stress que a vida se encarrega de nos impor, e ainda fazemos questão de nos estressar voluntariamente quando isso é desnecessário e inútil?

2 comentários:

Aline Valek disse...

Querendo ou não, as filas são um dos adventos da civilização. Só não os são os serviços de atendimento ao cliente das operadoras de telefonia celular!

Geo²rgia disse...

Ah como me identifiquei....

eu sempre prevenida, vou para filas com música e livro.

E não é que isso realmente faz elas andarem mais rápido?

beijos